A participação de mulheres em competições esportivas e programas de atividade física adquiriu importância crescente nas últimas décadas. O número de mulheres atletas e praticantes de atividade física tem aumentado consideravelmente, e há trabalhos que indicam um crescimento de 600% na participação feminina em esportes, perfazendo um total de mais de 2 milhões de mulheres ativas fisicamente em todo o mundo. Por estas razões dedicaremos às mulheres o assunto deste mês nesta coluna e assim abordaremos a chamada Tríade da Mulher Atleta (TMA), síndrome (conjunto de sinais clínicos e sintomas) que afeta tanto atletas de elite quanto praticantes de atividade física e engloba desordem alimentar, amenorreia (ciclos menstruais diminuídos ou ausentes) e osteoporose (redução de massa óssea corpórea).
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A origem do termo
O termo “Tríade da Mulher Atleta” foi oficializado em 1992, quando o Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) reuniu diversos especialistas da área e publicou o resultado daquela conferência. Ainda pouco esclarecida, a desordem alimentar encontrada nesta síndrome se refere a um espectro de padrões alterados de alimentação, desde uma simples restrição calórica até formas graves de anorexia nervosa e bulimia.
A anorexia nervosa é caracterizada por extrema restrição alimentar, distorção da própria imagem corporal, indução de vômitos, intensa preocupação com a obesidade, e amenorreia (ciclos menstruais ausentes ou com intervalos superiores a 90 dias). A população de atletas mais propensa a desenvolvê-la inclui o grupo das bailarinas e das corredoras de longa distância, geralmente obcecadas por magreza e muito cobradas por parte de treinadores, patrocinadores e mídia especializada. Segundo alguns autores, aproximadamente 25% das mulheres anoréxicas são atletas de elite.
No passado, a disfunção menstrual observada em atletas de alta performance foi associada ao alto nível de atividade física que caracterizava seus treinamentos diários. Durante muito tempo isto não despertou o interesse dos pesquisadores, pois achava-se que com a diminuição da intensidade dos treinamentos, a ciclicidade menstrual voltaria ao normal sem detrimento da saúde da atleta. Porém, alguns autores observaram que a densidade mineral óssea em atletas amenorreicas era significativamente menor quando comparada a atletas eumenorreicas (ciclos menstruais regulares). Após estes estudos, o conceito anterior de fenômeno benigno da amenorreia em atletas de ponta foi revisto, e esta condição passou a ser encarada como uma causa prematura e importante de perda óssea e consequente osteoporose.
A amenorreia da mulher atleta é consensualmente reconhecida na literatura científica atual como um fenômeno de causa hormonal. A secreção pulsátil do hormônio hipotalâmico (secretado pelo hipotálamo, glândula presente em nosso cérebro que regula diversas funções hormonais), que promove a liberação dos hormônios estimuladores dos ovários, está alterada, o que resulta na produção diminuída dos esteroides ovarianos estrógeno e progesterona, hormônios responsáveis pela regulação e modulação dos ciclos menstruais femininos.
A redução na secreção de estrógeno ocasionada pela amenorreia hipotalâmica da síndrome é responsável pelo desenvolvimento de osteoporose prematura com consequências a curto e longo prazos. A curto prazo estas atletas têm apresentado um alto índice de lesões em decorrência tanto do comprometimento estrutural da microarquitetura do osso como da redução de massa óssea corporal, particularmente fraturas por estresse, e a longo prazo aquelas que se tornam portadoras de osteoporose desenvolvem um risco aumentado de fraturas potencialmente graves, embora ainda sendo jovens.
Como combater a tríade da mulher atleta
O principal objetivo no tratamento de atletas portadoras de alterações alimentares e amenorreia é restaurar seu equilíbrio hormonal. A atividade física deve ser prontamente reduzida em 10 a 20% do volume/intensidade/frequência prévios, e o ganho de peso deve ser adquirido com dietas que ofereçam acima de 2.500 calorias, medidas que geralmente resultam no retorno espontâneo de menstruação. Nos casos em que isso não ocorre a reposição hormonal passa a ser preconizada para evitar a perda óssea precoce, através de reposição estrogênica da mesma forma que é realizada em mulheres menopausadas, ou quando necessário, da administração de anticoncepcionais orais com altas taxas de estrógeno para aumentar de forma significativa a massa óssea destas atletas. A suplementação com cálcio deve ser feita em todas as portadoras da Tríade da Mulher Atleta, utilizando 1.500 mg diários que podem ser divididos em duas doses.
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