terça-feira, 29 de outubro de 2019

Como o canabidiol, extraído da maconha, ajuda na recuperação muscular

Tratado como um tema bastante polêmico no Brasil, o canabidiol (CBD), um dos componentes da cannabis, pode ser um importante aliado na recuperação muscular de atletas amadores e profissionais. Ainda há muita desconfiança e preconceito relacionados ao tema. Apesar de diversos estudos já terem comprovado os benefícios da substância à saúde, são poucos os países que legalizaram o uso de medicamentos a base de canabidiol. Já no cenário esportivo, o CBD vem causando debates sobre doping.

A Dra. Ana Gabriela Baptista, consultora técnica em Cannabis Medicinal, explica que o óleo extraído da cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, é apenas um dos 113 fitocanabinoides que a planta produz. E, apesar de representar mais de 40% de sua composição, diferente do tetra-hidrocanabinol (THC), o CBD não é o responsável pelas propriedades psicoativas da maconha.

Nos últimos anos, diversos estudos que comprovam a eficácia do canabidiol vêm sendo realizados e levados em conta no processo da liberação da substância no tratamento de doenças e na recuperação muscular em atletas de diversos países.

Como o canabidiol, extraído da maconha, ajuda na recuperação muscular - Foto: Adobe Stock

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O canabidiol na recuperação muscular

Apesar de polêmico, o assunto é tratado com a devida naturalidade por alguns profissionais do meio da saúde. O médico generalista especializado em terapia canabinoide, Dr Adolfo Pires Almeida explica os benefícios da substância para o corpo. “O óleo de CBD apresenta importante efeito anti-inflamatório, protetor muscular e das estruturas esqueléticas. Além disso, apresenta alívio da dor local com soluções tópicas”, afirma o especialista.

Ana comenta que o fitocanabinoide também age como anticonvulsivo e antidepressivo, sendo muito utilizado no tratamento de distúrbios neurológicos. “Na parte comportamental, o CBD tem potencial ansiolítico, o que reduz a ansiedade, melhora a cognição e também ameniza a psicoatividade do THC”.

Um artigo publicado na Outside, em abril de 2018, mostrou também que o canabidiol age no corpo como analgésico e é rico em antioxidantes. Segundo o mesmo, os receptores de serotonina e vaniloides do cérebro interagem com o CBD, afetando o humor e a percepção da dor do indivíduo.

A utilização do CBD

O meio de consumo mais comum da planta ao redor do mundo é por meio do fumo, prática que continua sendo considerada proibida quando o assunto é a performance esportiva, tanto pelos efeitos psicoativos causados, quanto pelas consequências ao sistema respiratório. Atletas que buscam o canabidiol para o auxílio na recuperação muscular, em geral, fazem o uso do óleo e de seus produtos derivados.

Por se tratar de um óleo extraído da cannabis, ele pode ser utilizado como matéria prima para pomadas, cremes e loções, sendo aplicadas diretamente no músculo ou articulação. A Dra. Ana Gabriela explica que o óleo rico em CBD também pode ser administrado direto na boca, por meio de cápsulas (como remédios) ou aplicadores.

Como o canabidiol, extraído da maconha, ajuda na recuperação muscular - Foto: Adobe Stock

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Doping no esporte

Como um marco importante na história do esporte, no dia 1º de janeiro de 2018, a Agência Mundial Antidoping (WADA) retirou o CBD da lista de substâncias proibidas da organização. Com isso, muitos atletas de alto rendimento, principalmente nos EUA, passaram a utilizar o fitocanabinoide como uma alternativa ao ibuprofeno e outros analgésicos. Por se tratar de uma planta natural e que não sofre tantos processos químicos como outros medicamentos vendidos em farmácias, é menos nociva e prejudicial ao corpo, principalmente aos rins .

No entanto, o uso recreativo da cannabis engloba todas as substâncias presentes nela, incluindo o CBD. Por isso, o consumo destas, em especial, o THC (responsável pelos princípios psicoativos, mais conhecido por deixar os usuários “chapados”), ocasiona na dopagem de atletas amadores e profissionais.

A legalização medicinal e social da cannabis no Canadá e em muitos estados dos EUA vem motivando outros países a seguirem o exemplo. No esporte não é diferente. Alguns nomes renomados no meio, como o presidente da Confederação Brasileira de Skate e multicampeão na modalidade, Bob Burnquist e os lutadores de MMA, Nate e Nick Diaz se declararam usuários e defensores da causa da liberação.

No skate (modalidade olímpica em Tóquio 2020) e no MMA, o uso recreativo e medicinal da planta é proibido durante o período de competição.

Algumas entidades como a NFL, a Liga de Futebol Americano dos EUA, já demonstraram interesse em flexibilizar a política de doping por cannabis. Segundo um relatório da NBC Sports, legalizar o uso da planta por jogadores engloba muitos fatores, entre eles, o fato de não ser liberada em todos os estados do país (até o momento, 11 estados americanos legalizaram a venda de maconha para uso recreativo). As conversas da NFL com a Associação dos Atletas da liga deve acontecer somente em 2020, com uma possível liberação apenas em 2021.

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Canabidiol no Brasil

Por conta do THC, a planta também é ilegal no Brasil. O canabidiol, por outro lado, foi retirado das substâncias proibidas pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em janeiro de 2015. O uso do medicamento foi regularizado, contanto que tenha a autorização e controle da entidade, sendo utilizado para tratar doenças como epilepsia, ansiedade, esclerose múltipla e dores crônicas.

Ainda assim não é fácil conseguir um remédio que tenha o CBD, o processo é demorado e passa por diversas etapas. Apesar da polêmica envolvida, para o OMS, o canabidiol, quando utilizado como substância medicinal, não deve ser tratado como droga.

No território nacional, 590 prescrições de remédios feitos a partir da substância foram feitas entre janeiro e novembro de 2018. Um número muito baixo comparado aos 200 milhões de habitantes. Inúmeros fatores podem ser levados em consideração, desde o preconceito enfrentado pelos médicos quando prescrevem tais medicações, até a burocracia enfrentada por quem necessita do tratamento.

Para conseguir a liberação, o médico precisa prescrever algum remédio que contenha o CBD. Após conseguir a receita, o paciente deve se cadastrar no site da ANVISA e aguardar a análise da entidade. Caso a solicitação seja aprovada, a agência autoriza a importação e aquisição do mesmo (que não é produzido em território nacional, justamente por ser proibido). Quando chega em território nacional, o produto é analisado e liberado pela própria ANVISA.

O mercado da cannabis

Nos Estados Unidos, o uso recreativo da planta é legalizado em 11 estados, em uma lei que esbarra em complicações. As leis federais e estaduais entram em conflito com relação a dois tipos diferentes de maconha: a propriamente dita (que contêm THC e CBD), e o Hemp (conhecida como cânhamo e que contém apenas 0,3% de THC, com alta concentração de CBD).

Nos estados onde são legais, os produtos que contêm THC são cultivados, processados e vendidos apenas por empresas licenciadas pelas autoridades estaduais. A segunda espécie da planta é considerada ilegal nos EUA, o que dificulta a comercialização. Os produtos com o canabidiol são comercializados em lojas comuns, como os supermercados, mas são concentrados apenas nas áreas legais.

Apesar desse fato, a indústria canabica, segundo um relatório da consultoria Brightfield Group, espera faturar US$5,7 bilhões apenas em 2019, cerca de R$23,14 bilhões. Deste valor, estima-se que 57% das vendas não seja online, mas em estabelecimentos como grandes redes de farmácias, varejos e mercearias. Para os próximos anos, com o crescimento do mercado, a expectativa de faturamento é ainda maior, cruzando a barreira dos US$20 bilhões até 2022.

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Estudos sobre o CBD

Um estudo publicado no Jornal de Farmacologia e Experimentos Terapêuticos em junho de 2018, explica como a substância age no corpo humano como anti-inflamatórios. Os resultados exibidos no jornal americano mostram como os fitocanabinoides modulam as respostas inflamatórias regulando a produção de citocinas em vários modelos experimentais de inflamação.

Já a Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente publicou um estudo em 15 de dezembro de 2018 que comprova e mostra como as principais substâncias da cannabis (THC e CBD) agem. Como citado no texto, o canabidiol age de maneira diferenciada no corpo, podendo inibir os efeitos psicoativos do THC.

*Fontes médicas: Dr Adolfo Pires Almeida, médico generalista especializado em terapia canabinoide, membro da SBEC (Sociedade Brasileira de Estudo Canabicos) e sócio fundador da equipe Dr. Hemp.

Dra. Ana Gabriela Baptista, consultora técnica em Cannabis Medicinal e especialista Lato Sensu pelo Hospital Israelita Albert Einstein e Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

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