sexta-feira, 12 de julho de 2019

Mulheres encontram no esporte força para superar a violência doméstica

O início do romance é quase sempre igual para as vítimas de violência doméstica. O homem mostra-se gentil, atencioso, zeloso com sua mulher, fazendo com que ela acredite que ele cuida dela de maneira muito especial. Aos poucos, no entanto, essas atitudes ganham ares de castração e proibição. “Para que usar esse batom vermelho? Isso é coisa de mulher que precisa arrumar namorado – e você já tem a mim!”; “Aquela sua amiga ri muito alto, quer chamar atenção. Não acho legal você andar com ela.” Tudo dito geralmente em tom protetor.

A auxiliar de enfermagem, doula e consultora de amamentação Simone Gomes, de 31 anos, sabe bem o que é isso. “No começo, meu ex-marido se mostrou uma pessoa especial, me tratava como uma princesa, parecia só pensar no meu bem-estar. Mas assim que engravidei, fez com que eu parasse de trabalhar, passou a controlar todos os meus passos e me afastou até da minha família”, conta.

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Junto com o “isolamento do mundo”, vieram as agressões psicológicas e físicas. Depois de quase cinco anos e dois filhos, sofrendo calada, no final de 2015, Simone pediu a separação. No entanto, em março de 2016, já morando em casas diferentes, ele a procurou e a agrediu de novo. Machucada e muito triste, ela buscou ajuda e foi em frente com a denúncia de violência doméstica.

Mulheres encontram no esporte força para superar a violência doméstica / Foto: Adobe Stock

Mulheres encontram no esporte força para superar a violência doméstica / Foto: Adobe Stock

A corrida havia entrado em sua vida um pouco antes, quando uma amiga a presenteou com uma inscrição. “Começar a correr me trouxe de volta a autoestima, o empoderamento e minha identidade, pois até então eu tinha medo de sair, não conseguia tomar decisões. Tenho certeza que a força para dar um basta na situação veio da sensação que o esporte trazia. Correndo me sentia forte, destemida. Com isso segurei a barra quando foi preciso.” Hoje, Simone coleciona medalhas e troféus das corridas que participa.

Já a jornalista Giselli Souza, 39 anos, vivenciou a violência doméstica na infância, assistindo às brigas dos pais. “Não à toa me tornei uma adolescente rebelde. Sempre estudei em excelentes colégios e por muito tempo me dediquei ao esporte como forma de extravasar tudo o que assistia em casa. Sei que muitos filhos de pessoas que sofreram com a violência doméstica não repetem esses comportamentos na vida adulta. Porém, há pessoas que simplesmente desconhecem relacionamentos que fogem a esse padrão. E eu me incluo neste grupo”, conta.

Giseli superou o trauma com auxílio de profissionais e do esporte.”Graças a anos de terapia e à minha retomada ao esporte, há 13 anos, venho mudando o meu jeito de ser e me relacionar com o mundo. Hoje tenho me permitido vivenciar relacionamentos mais saudáveis e próximos daquilo que sempre quis: uma família unida pelo amor e pelo respeito. O esporte me empodera diariamente e me faz não só buscar a minha melhor versão, como também perdoar os erros dos meus pais e ainda enxergar a diva que existe em mim, capaz de reconstruir uma família com alicerces positivos”, conta Giselli, que é fundadora do “Divas que Correm”, o maior clube de corrida feminino do Brasil.

A Corrida Movimento Pela Mulher é um evento para mulheres e homens, com o objetivo de incentivar a prática esportiva e conscientizar a sociedade e o poder público sobre o grave problema social que é a violência contra a mulher.

A promotora de justiça Gabriela Manssur – idealizadora da corrida e um dos mais importantes nomes no combate à violência contra a mulher – sempre acreditou na força do esporte para transformar o mundo. “Por que não trazer o empoderamento por meio do esporte para o maior número possível de mulheres? Incentivá-las a praticar atividades físicas e adotar um estilo saudável contribui muito para a prevenção e erradicação da violência. Elas adquirem saúde, força, autoestima, respeito ao próprio corpo e amor à vida”, diz a promotora maratonista.

“É muito mais que uma corrida, é um instrumento para provocar a união, expor a força das mulheres e, claro, trazer à tona a capacidade que o esporte tem como instrumento de empoderamento. O esporte tem o poder de blindar e transformar a mulher, garantindo-lhe autoestima, autoconfiança, motivação, socialização, propósito, dedicação, saúde e felicidade”, completa Fabíola Sucasas, titular da promotoria de justiça de enfrentamento da violência doméstica, corredora e embaixadora da prova.

A 3ª Edição da Corrida Movimento Pela Mulher, realizada pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social (INDES) e organizada pela Life Marketing Esportivo, acontece em 25 de agosto, na região do Parque Ibirapuera. As inscrições podem ser feitas pelo Ticket Agora.

Pensado para envolver todas as pessoas, independente de gênero, idade, aptidão e nível esportivo, o evento traz as modalidades corrida (nas distâncias de 5 e 10K) e caminhada (5K). Parte da renda gerada será investida em organizações sociais que defendem e trabalham em prol dos direitos das mulheres e que são parceiras da Corrida Movimento pela Mulher, como o Instituto Maria da Penha, Projeto Vida Corrida, Geledés (Instituto da Mulher Negra), União das Mulheres e Plano de Menina.

Serviço:
Data: 25/08/2019
Local: Parque Ibirapuera, São Paulo
Horário da largada: 7h
Inscrições: Ticket Agora

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