Quem pratica esporte sabe que está sempre propenso a sofrer vários tipos de lesões, principalmente quando se fala de corrida, uma modalidade que trabalha diversas partes do corpo. No entanto, as corredoras sofrem muito mais com lesões dos que os corredores.
A maioria dos artigos mostra que a divisão entre masculino e feminino em lesões de corrida é toda baseada sobre o “ângulo Q”. Esse é o ângulo que a metade superior da perna faz com a vertical um ângulo no quadril. As mulheres tendem a ter um “ângulo Q” maior do que os homens graças a seus quadris serem mais largos e, em teoria, isso causa maior estresse no joelho e na perna, levando a lesões diferentes.
Algumas evidências que apoiam essa ideia. Por exemplo, um estudo realizado em 2012 por Jack Taunton e seus colegas no Centro de Medicina Esportiva, da Universidade da Colúmbia Britânica, analisou mais de 2.000 lesões de 30 anos de registros. Eles descobriram que os homens tendem a ter mais lesões no tendão e na cartilagem do joelho, enquanto as mulheres tendem a ter mais instabilidade da pelve, fraturas por estresse e síndrome da dor patelofemoral (ou seja, joelho do corredor). A incidência de fraturas por estresse é um lembrete de que existem outros fatores, como densidade óssea, que podem diferir entre homens e mulheres, além da tríade da mulher atleta hoje conhecida como déficit energético.
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Há uma outra maneira de olhar para as diferenças entre homens e mulheres em lesões de corrida, onde um grupo de corredores que já estão machucados, comparados com um grupo de controle de corredores ilesos e ver se você detecta algum padrão dentro do gênero em sua biomecânica durante uma avaliação de marcha em 3D. Por exemplo, um estudo publicado no início deste ano no Jornal Escandinavo de Medicina e Ciência no Esporte comparou 48 corredores com síndrome da banda iliotibial a 48 controles saudáveis.
Comparando-se dentro de cada gênero, nesse trabalho, as corredoras lesionadas exibiam maior rotação do quadril do que corredoras saudáveis. O mesmo padrão não apareceu nos homens; em vez disso, os corredores masculinos lesionados tiveram maior rotação de tornozelo do que os homens saudáveis. Então, enquanto o resultado final é o mesmo, “as mulheres desenvolvem essa lesão de uma perspectiva de quadril enquanto os homens a desenvolvem de uma perspectiva de pé e tornozelo.
Uma história semelhante surgiu quando Ferber e colegas em várias outras universidades analisaram a dor femoropatelar (isto é, o joelho). Em um estudo publicado no Physical Therapy in Sport, eles descobriram que as mulheres lesionadas tinham quadris mais fracos do que as mulheres saudáveis, mas os homens com lesão não se comparavam a homens saudáveis. Em vez disso, os homens lesionados tendem a ter joelhos mais fracos. O que isto significa é que, se um corredor é lesionado, eles devem estar recebendo uma análise específica do gênero para determinar a causa raiz de sua lesão. A noção tradicional de uma abordagem ‘tamanho único’ para avaliação de danos e protocolos de reabilitação não pode mais ser seguida.
É claro que a resposta nunca será tão simples quanto uma fraqueza que causa todos os ferimentos, mas o desafio é descobrir qual fraqueza potencial se aplica a quais corredores – porque ninguém tem tempo para fortalecer todas as áreas frágeis possíveis. O padrão desses dois estudos sugere que os quadris podem ser mais importantes para as mulheres, contra as pernas para os homens. Muito preliminar, claro, mas interessante considerar. Então, meninas, o segredo talvez seja fortalecer nosso ponto fraco.
Fonte: Dra. Ana Paula Simões ortopedista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
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