quarta-feira, 27 de maio de 2020

Cultura do estupro: entenda que a vítima nunca tem culpa

Ninguém ensina um menino a ser um estuprador, mas o ensina a se sentir superior às meninas. Ainda que pareça bastante sutil, atos diários contribuem para o sentimento de superioridade e, finalmente, para a prática do estupro. A cultura do estupro começa em casa, quando certos comportamentos masculinos são tidos como naturais e com a repreensão das meninas pela violência sofrida. Entenda mais:

O que é a cultura do estupro

A cultura do estupro existe porque estamos em um contexto de profunda desigualdade de gênero. Ou seja, há uma desumanização da mulher e uma objetificação de seu corpo, e isso começa desde cedo. Nesse sentido, inúmeros comentários servem para reforçar ainda mais essa cultura, embora sejam considerados por muitos como piadas.

O que consumimos na televisão também colabora, e muito, para a construção da cultura do estupro. Muitos programas e propagandas colocam as mulheres como objeto de desejo ou em uma posição de submissão, como a figura que é feita para cuidar da casa e dos filhos e, geralmente, está em uma posição inferior à dos homens.

Isso acontece porque, enquanto as meninas estão crescendo, os pais censuram suas roupas e corpos, mesmo que a censura seja disfarçada de cuidado e preocupação. Em relação aos meninos, esse zelo é muito menor. Esses são alguns exemplos de como práticas cotidianas ajudam a formalizar a cultura do estupro, porque reforçam a ideia de que os homens podem muito mais coisas do que as mulheres.

Por que falar sobre a cultura do estupro

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Quando, em uma sociedade, a violência sexual é tida muitas vezes como culpa da vítima, é porque existe uma cultura do estupro. E os detalhes do dia a dia reforçam ainda mais esse hábito: muitos comportamentos e características da vítima são usados como justificativas para a violência sofrida. É como se a mulher não tivesse o direito sobre o próprio corpo e suas vontades.

Quando duvidamos da vítima e relativizamos a violência por conta de seu passado ou de suas práticas sexuais, estamos reforçando a cultura do estupro. Nessa cultura, é mais aceitável acreditar em uma suposta malícia natural das mulheres do que reconhecer que homens cometem estupros. É justamente por isso que o machismo é que mantém a cultura do estupro, e falar sobre o assunto é o primeiro passo para desconstruir essa prática.

6 fatos para entender melhor a cultura do estupro

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Uma série de mitos sobre o estupro e a cultura que o perpetua são disseminados diariamente. Confira os fatos abaixo para entender melhor:

1. Meninas são o sexo frágil

Espera-se que a mulher seja delicada, comportada e zele pelo bem-estar do homem, que é, supostamente, mais forte e corajoso. Essas diferenças não são biológicas, mas construídas socialmente, e estabelecem uma relação de superioridade de um gênero sobre o outro. É daí que vem a ideia de que homem não pode chorar e de que as mulheres devem ser responsáveis por tudo – inclusive pelas violências que possam sofrer.

2. A cultura do estupro é disseminada pela mídia

Na TV, na música e na publicidade, as mulheres são exploradas e apresentadas como se fossem uma “coisa” e não um ser humano. Embora isso possa parecer inofensivo, faz com que muitos homens, desde cedo, entendam que o corpo feminino não tem valor e que existe apenas para servi-los – ou seja, passam a agredir, mutilar, estuprar e assassinar mulheres a partir desse ideal.

3. Cultura do estupro não tem nada a ver com amor

Enviar ou compartilhar vídeos que difamam conhecidas ou desconhecidas, desqualificar mulheres simplesmente por causa do gênero, romantizar ciúme, consumir pornografia e sexualizar crianças são práticas que colaboram para a cultura do estupro. Aquela ideia de que o coleguinha da escola bateu na amiguinha porque gosta dela é um exemplo disso, e ensina que o amor pode ser medido com a dor.

4. O estuprador pode ser alguém bem próximo

Estupradores nem sempre são desconhecidos. O estupro acontece em todos os lugares e ocorre sempre que a mulher não consente com o ato sexual – mesmo que seja com o marido ou namorado. Por isso, é importante ensinar desde cedo às meninas que ninguém tem o direito de tocar no corpo delas sem consentimento.

5. Nada justifica o estupro

Independente da roupa, aparência, comportamento ou grau alcoólico, nada justifica a violência contra a mulher. Até mesmo durante um ato sexual, ela tem direito a dizer não e querer parar por ali. Colocar essas questões em evidência é uma característica da cultura do estupro, que se preocupa mais em apontar “defeitos” no comportamento da vítima do que se preocupar com o estuprador.

6. Quem cala não consente

A ideia de que a mulher “bebeu porque quis e sabia o risco que corria” é um pensamento recorrente a muitos homens que cometem violência sexual, mas não se enxergam como estupradores. É importante reforçar que, se a mulher não estiver em plena capacidade de concordar com o ato sexual, é estupro.

É muito importante termos esses pontos sempre em mente. Isso evita a reprodução de discursos que perpetuam a cultura do estupro e nos torna mais conscientes de nosso direitos no dia a dia.

A cultura do estupro no Brasil

O medo das mulheres de sofrerem uma violência sexual é enorme e cresce ainda mais por saberem que ainda poderão ser consideradas culpadas por isso. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha em 2016, 33% da população acredita que a vítima é culpada em um caso de estupro. Estamos falando de um a cada três brasileiros.

Entre os homens, o pensamento é ainda mais comum: 42% deles dizem que mulheres que se comportam direito não são estupradas. Esse dado comprova que a cultura do estupro tem raízes sociais bastante profundas e precisa ser discutida, para aprendermos a combatê-la.

Vídeos para refletir um pouco mais

Separamos alguns vídeos que ajudam a complementar a visão sobre a cultura do estupro e como homens e mulheres podem combatê-la. Confira:

Entenda a cultura do estupro em poucos minutos

Quantas mulheres que você conhece já foram assediadas na rua? Você acha que isso não tem nada a ver com a violência sexual, pois é só uma cantada? Aí é que você se engana: estamos falando de uma prática que faz parte da cultura do estupro. Esse vídeo vai te ajudar a entender.

Redes sociais disseminam a cultura do estupro

Nesse vídeo da Jout Jout, ela comenta um episódio ocorrido com uma menina de 12 anos que participou de um programa de TV. Isso também faz parte da cultura do estupro e você vai entender porque dando play no vídeo.

Origens da cultura do estupro no Brasil

Nesse vídeo, a pesquisadora Djamila Ribeiro comenta a origem da cultura do estupro no Brasil, que remonta à época em que os senhores de escravos iam até a senzala para violentar as mulheres.

A cultura do estupro está diretamente ligada à maneira como a sociedade educa meninos e meninas e, portanto, é fundamental que a desconstrução dessas identidades de gênero sejam feitas. Para entender melhor sobre como o machismo silencia e pode aparecer de maneira bastante sutil, aprenda a reconhecer o sexismo. Vamos ficar atentas a todos os sinais!

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